segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

entrevista: KONAD

Quando nos lembramos de Beirute, possivelmente, virá à cabeça de muita gente a palavra... guerra. Se acrescentarmos o prefixo máquina, teremos os KONAD: a actual máquina de guerra de Vila Franca de Xira! "Café Beirute" é o 1º álbum do trio destruidor formado por Kampino, Frazão e David. Por intermédio das novas tecnologias, trocámos umas perguntas com o baterista/vocalista Kampino para ficarmos a saber um pouco mais deste manifesto de combate e se alguém vai sobreviver a todo este poder de fogo!


MEB: Antes de mais, parabéns pelo vosso excelente álbum! Sem dúvida que construiram algo muito cativante e que flui como cerveja! Como decorreu o processo de composição e o que tinham em mente quando iniciaram este novo capítulo?

Kampino: Viva Rui! Obrigado! Ora, o "Café Beirute" levou quase 2 anos a ser concebido até chegar à edição em CD. No início, apenas tínhamos decidido fazer um disco mais bruto e fodido do que tínhamos feito até então. No fundo, quisemos introduzir as nossas referências que advêm do thrash metal na nossa sonoridade mais punk/hardcore. Inicialmente, andámos à procura de uma sonoridade, o que fez com que tivéssemos preparado algumas 40 ideias para músicas. Depois fomos seleccionando os temas que mais se enquadravam com aquilo que pretendíamos.

MEB: E qual a vossa opinião sobre o resultado final de "Café Beirute"?

Kampino: Bom, na minha opinião, acho que ficou um disco muito bom. Conseguimos integrar diversos elementos de forma coerente. Face ao trabalho que tivemos para o concretizar, sinto-me muito satisfeito com o resultado final. Foi uma produção DIY, todas as captações de instrumentos e misturas foram realizadas por nós. Apenas a masterização foi realizada nos Endarker Studios, que ajudou a dar mais ambiente ao disco. Foi um processo longo... Sentimos apenas algumas dificuldades de divulgação pelo facto de não termos então uma rede de contactos muito alargada e não termos nenhuma editora/distribuidora que permitisse um maior suporte de difusão do disco. Ainda assim, penso que conseguimos chegar a muita gente que recebeu bem o disco e isso reflectiu-se nos concertos que fomos dando pelo país.

MEB: "Café Beirute" apresenta muita diversidade, desde a agressividade extrema de "Mákina de Guerra", às passagens de cariz oriental do tema título e terminando na "Vaka Cinzenta", a pérola que encerra o álbum. Vocês juntam um pouco dos vários mundos. Assim é k estão bem?

Kampino: Sem dúvida. Conseguimos ter um som pesado e manter a nossa veia punk/hardcore ao de cima. Assim é que estamos bem. A ideia é seguir uma linha mas tecê-la de várias maneiras. É preciso é sentir que o que fazemos é fluído e nos agrada.


MEB: Porquê "Café Beirute"? Vivemos no caos e caminhamos para a destruição total?

Kampino: Bom, por incrível que possa parecer, a verdade é que o David surgiu com esse título antes de termos composto o que fosse. Serviu de guia de inspiração para a composição. Fez-nos pensar nas tensões ocidente/oriente, no choque de culturas, tolerância/intolerância, guerras e guerrilhas... Alguns temas do álbum derivam destas ideias. Ainda chegámos a falar, mais tarde, num outro título, mas decidimos manter "Café Beirute". Sem dúvida que vivemos tempos conturbados a vários níveis, mas é difícil prever o caminho. A história está recheada de episódios transformadores das sociedades.

MEB: Sinto um cada vez mais carregar no pedal da vossa parte. O que nos pode esperar um novo capítulo de Konad? Ainda mais pesado e extremo? Podemos imaginar uns Konad totalmente thrash ou a costela punk estará sempre presente neste projecto?

Kampino: Penso que, no curto prazo, vamos continuar nesta senda de som mais duro, mas a costela punk estará sempre presente. Bebemos muita coisa do thrash-metal, cujas referências remetem-nos para o início da nossa formação musical, e resolvemos integrá-las. Bebemos muito também do crust, d-beat, hardcore... É difícil ter uma única matriz como referência. Esta mudança na sonoridade foi uma evolução natural, uma forma de alinharmos os nossos gostos musicais individuais e continuarmos satisfeitos enquanto banda. Em suma, actualmente andamos muito ali pelo hardcore/crust/d-beat e assim vamos continuar para já. Estamos, aliás, já a definir as linhas para o próximo disco.

MEB: Como se vêm inseridos no panorama nacional? Acham que podem ser muito punks para metálicos e muito metálicos para punks?

Kampino: Sim! Antes do "Café Beirute", acho que estávamos mais integrados numa corrente mais ligada ao punk. Com a integração de elementos mais pesados e agressivos nas nossas músicas, conseguimos chegar a pessoal mais virado para o metal. Talvez possa acontecer um pouco isso como descreves, às vezes notamos isso, não somos tipicamente uma banda de metal nem tipicamente uma banda de punk rock... Siga!!!!

MEB: Sentem-se mais confortáveis a cantar em português? Faz mais sentido tendo em conta o país e o que pretendem transmitir de uma forma mais directa e certeira?

Kampino: Boa pergunta... Desde a primeira formação dos Konad Moska que temos cantado em português. Pessoalmente, gosto. Consigo exprimir-me melhor em termos linguísticos. Embora reconheça que às vezes até seria mais fácil enquadrar textos em inglês nas músicas. Quando começámos dirigíamo-nos às pessoas que estavam à nossa volta e viviam o nosso mundo, e acho que ainda assim é... Mas creio também que partilhamos ideias e ideais com outras pessoas do mundo. A música é a linguagem. Não interessa a língua que utilizas se conseguires transmitir sentimentos.

MEB: Vocês (Kampino e Frazão) fizeram parte dos míticos Encancrate e já lá vão quase 20 anos. Como vêm a "cena", o meio underground, pessoal, etc? Está tudo na mesma?

Kampino: Bom, igual nunca poderia estar, os tempos são outros. Não sei se há mais ou se há menos bandas, mas creio que posso afirmar com segurança que há mais qualidade. Porra, tens aí várias bandas nacionais a tocar muito bem e a fazer grandes temas em diversos estilos musicais. Talvez aqui a nível local a cena já não respire tão profundamente como nesses tempos, mas mesmo assim têm surgido nestes últimos anos uma nova vaga de bandas muito boas. Ainda vão havendo muitas iniciativas na realização de concertos e festivais, mais ou menos underground, um pouco por todo o país. Embora, creio que ainda falte um circuito mais bem definido e sustentável. Os recursos e apoios também são escassos. Mas a arte e a cultura estão presentes.


MEB: E sobre estas novas formas de comunicar (Facebook's e quejandos), que aspectos positivos e negativos podem mencionar?

Kampino: Olha, em termos de canais de comunicação e divulgação as coisas são positivas. Chegas a mais gente e de forma quase instantânea em qualquer parte do mundo. Tenho conhecido também muita boa banda através da internet, que dificilmente doutra forma chegaria a elas. No entanto, a sobrecarga de informação também dispersa muito a atenção. Poderá haver até uma tendência na banalização dos consumos musicais, não sei... É difícil estar em todas e, mesmo com toda esta panóplia de informação, procuro direccionar os meus consumos musicais para o que mais me interessa, no sentido de pesquisa e conhecimento. Ainda quero conhecer...

MEB: Últimas palavras e mensagem para o pessoal. Obrigado!

Kampino: Eh pá, que continuem a fazer e a ouvir muita música. Como “imaterial” que é, alimenta o espírito... para mim, é um porto de abrigo.

(entrevista elaborada por: Rui Vieira)

1 comentário:

Varino disse...

Muito boa Entrevista! KONAD, orgulho de Vila Espanca!